quinta-feira, 30 de julho de 2009

Projeto de Leitura

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TEXTOS DE APOIO

Segundo Período
CONTOS E CRÔNICAS





*TEXTO I
CONTO ERÓTICO

-Assim ?

-É. Assim.
-Mais depressa ?
-Não. Assim está bem.
_Um pouco mais para...
-Assim ?
-Não, espere.
-Você disse que...
-Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem.
-Estava perfeito e você...
-Desculpe.
-Você se descontrolou e perdeu o...
-Eu já pedi desculpa !
-Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora.
-Assim ?
-Um pouco mais pra cima.
-Aqui ?
-Quase. Está quase !
-Me diga como você quer. Oh, querido...
-Um pouco mais para baixo.
-Sim.
-Agora para o lado. Rápido !
-Amor, eu...
-Para cima ! Um pouquinho...
-Assim ?
-Aí ! Aí !
-Está bom ?
-Sim. Oh, sim.
-Pronto.
-Não ! Continue.
-Puxa, mas você..
-Olha aí... Agora você...
-Deixa ver...
-Não, não. Mais para cima.
-Aqui ? -Mais para o lado.
-Assim ?
-Para a esquerda !!
O lado esquerdo !
-Aqui ?
-Isso ! Agora coça.

Luís Fernando Veríssimo
* Atividades do texto.
Com o narrador ausente, todo o texto é construído a partir do diálogo entre duas personagens. Que tipo de relacionamento supostamente há entre essas personagens? Justifique com elementos do texto.

Durante toda a leitura somos orientados para um sentido diferente daquele que temos ao chegar ao final do texto. Essa orientação de sentido não ocorre por acaso, mas é resultado de um conjunto de marcas existentes no texto.
a) Aparentemente, o texto retrata um diálogo entre personagens vivendo que tipo de situação?
b) Que “marcas” textuais (palavras, frases, construções, etc.) nos levam a construir esse sentido?
A pontuação tem um papel decisivo na construção da ambiguidade desse texto.
a) Quais são os sinais de pontuação que mais se destacam?
b) No contexto, que sentido cada um desses sinais sugere?

Além de trabalhar propositalmente com marcas textuais que dão ao texto uma orientação de sentido diferente, por meio de que procedimento o autor constrói a ambiguidade?
a) Omitindo o narrador
b) Omitindo dados do contexto discursivo em que se dá o diálogo.
c) Omitindo informações sobre o receptor que vai ler o texto.
d) Omitindo palavras do texto.

SEXA

- Pai........
- Hummmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É.Quer dizer,não.Existem dois sexos.Masculino e Feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino.Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino.A palavra "SEXO" é masculina.O SEXO masculino,o SEXO feminino.
- Não devia ser "A SEXA"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não!Desculpe.Porque não."SEXO" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É.Não!O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo.Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É.Quer dizer...Olha aqui.Tem o SEXO masculino e o SEXO feminino,certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não.Ou,são!Mas a palavra é a mesma.Muda o sexo,mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo.É sempre masculino.
- A palavra é masculina .
- Não." A palavra" é feminino.Se fosse masculino seria "o pal..."
- Chega!Vai brincar ,vai.
O garoto sai e a mãe entra.O pai comenta:
-Temos que ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
Ele só pensa em gramática.


Luís Fernando Veríssimo
* Atividades do texto.
1. Os dois textos “Conto erótico” e “Sexa” de Luís Fernando Veríssimo apresentam, respectivamente, os pontos em comum em relação ao recurso utilizado:
a) eufemismo
b) antítese
c) ambiguidade
d) comparação
e) prosopopeia

2. Qual a semelhança existente entre os dois textos de Luís Fernando Veríssimo tendo em vista a sua estrutura textual?

*TEXTO II

"Mato, logo existo"

Não é um bom assunto para domingo, reconheço. Mas estamos sempre tão ocupados nos dias da semana que não custa reservar dez minutinhos do dia de folga para refletir um pouco sobre que espécie de adultos está sendo formada aqui no mundo. O sul-coreano que no dia 16 de abril matou 32 pessoas dentro de uma universidade americana é um exemplo - a essa altura, já antigo, mas serve. Era um doente, e qual a doença dele? Solidão, depressão. Não se pode chamar de caso raro.
Um dia depois da tragédia, entrei numa sala de bate-papo na internet para ler os comentários sobre o episódio. Até então, não estava tão perplexa - é um crime recorrente nos Estados Unidos. Mas ao me me deparar com a reação de alguns brasileiros da mesma faixa etária do assassino, aí sim estarreci. Nunca vi um conjunto de idéias tão preconceituosas, agressivas e mal escritas. Era o festival da ignorância. Uma amostra da miséria cultural, intelectual e afetiva que caracteriza os novos tempos. Ninguém discutia com civilidade, os comentários eram belicosos e ferozes e, quando discordavam uns dos outros, aí é que a baixaria rolava solta. Pensei: eles estão protegidos pelo virtualismo , mas se estivessem frente a frente e com uma arma ao alcance da mão, quem garante que não teriam seu dia de Cho Seng-Hui?
Esses garotos e garotas têm a rebeldia natural da idade, mas é uma rebeldia sem argumento, vinda do desespero. Eles cresceram assistindo a uma quantidade exagerada de violência na TV e no cinema, idolatram músicos que cantam coisas como " eu escrevo minhas próprias leis com a morte ", têm pouco contato com o pai e a mãe, mantêm amizades de faz-de-conta e são soterrados por uma avalanche de informações que mal conseguem filtrar. Tudo isso numa sociedade cada vez mais competitiva, na qual a ordem é aparecer a qualquer custo. A felicidade há muito deixou de se concentrar na trinca amor-saúde-dinheiro: agora é popularidade-sexo-e-muito-muito-muito-dinheiro. Quem tem uma vida modesta se frusta: conclui que é uma pessoa que não existe, que não conta, que não vale . E resolve dar o seu recado na marra.
Impossível esse relato não soar dramático, mas irreal não é. A vida mudou. E temos alguma responsabilidade nisso, não somos apenas vítimas, mas cúmplices. Está mais do que na hora de ficarmos mais perto de nosso filhos. De oferecer a eles livros e música boa, dar muito carinho e elogio, ficar de olho nos lugares onde eles vão e em com quem saem - um pouco de controle não faz mal a ninguém. É recomendável também tirar um sarro dessas revistas que vivem de fofoca, ridicularizar a fixação pela estética, mostrar a eles que os super-heróis de verdade costumam ser mais discretos.
Porém, discrição é uma coisa, fuga é outra. É preciso chamar essa garotada para um papo quando estiver silênciosa demais, ajudá-la a compreender essa loucura aí fora (que nem nós compreendemos direito), levá-la para viajar quando der, colocá-la em contato com hábitos mais simples e escutá-la muito, não importa sobre que assunto.
É guerra: agressividade e miséria existencial que caracterizam nossa época precisam ser enfrentadas não só com Prozac, mas com cultura e afeto. A grande maioria dos adolescentes que aí estão não conseguirá ganhar fortunas, não vai virar artista nem doutror, não vai se casar com homens com barriga tanquinho nem com mulheres que autografam a "Playboy": eles vão ter uma vida normal. E se o normal seguir não servindo para eles, pobres de nós todos.

Martha Medeiros

*TEXTO III
Desconfiável mundo novo.
É engraçado notar uma certa “comercialização” exacerbada, além de pretensiosa, no que se refere ao panorama farmacêutico atual. Mal caímos na agonia de ter medo da mesma gripe de sempre, só que com nome diferente, que as propagandas bem-humoradas, repletas de mensagens indiretas, já estão instaladas em todos os cantos e janelas da mídia.
À princípio, como se por conclusão detetivesca de alguém, chegou-se a um fator comum entre várias mortes, tendo sobrado o crédito pela descoberta ao seu digno merecedor, o qual não fez alarde, porém, como quem conta um ponto aumenta uma bília, lá estavam as notícias da epidemia. Estava descoberto então o que todos já conheciam, por sinal, sob o mesmo nome de “gripe”, apavorando, como sempre, sob o nome de uma sigla desconhecida ao vocabulário médico padrão da população. Como se já não bastasse, correm as empresas publicitárias a satirizar interioranos, pejorativamente, divulgando novas curas para os males que, obviamente, já se sabe ser o alvo das atenções de todos ligados nos jornais. Muito engenhoso...
Lei de oferta e procura! A preocupação com o bem estar geral é algo fascinante... Ironicamente, vejo os avisos em letras brancas, sob fundo azul – tais avisos, por sinal, duram menos tempo em tela que o suficiente para lê-los – , mostrando o cuidado do fabricante em deixar bem claro, para todos os telespectadores, a necessidade de consultar médico antes de adquirir o produto, mas não sem antes bombardear a todos com bordões pegajosos de algum tipo de “melhorôgripil” ou coisa parecida, ressaltando um subliminar “epidemia”.
Fica cada vez mais difícil saber em quem confiar para se sentir seguro, mas me sinto confortável em saber que pelo menos em caso de drogas mais leves, do tipo que nem precisamos ter receita para comprar, como por exemplo cigarros e aquela coisa preta que se bebe gelada - acho que é do papai noel ou urso polar... Não lembro mais o nome... -, são coisas que sempre têm o efeito esperado: consumidor satisfeito! Com a certeza do prejuízo! Pena que nada motiva mais o mundo que a dúvida...

Rafael S Valle

*TEXTO IV
Gripe Suína 1: Receita da Vovó - Bálsamo Alemão!
Minha avó uma mulher simples do interior, além das marcas do tempo era senhora de marcas profundas em seu caráter. Mulher sensível e corajosa, ficou viúva muito cedo. Meu avô morreu ainda jovem, não havia completado quarenta anos e a deixou esperando a última filha, dos oito filhos que criou sozinha. Sem direito a opção, dedicou-se ao trabalho que surgiu à frente, fosse no cabo da enxada, fosse ao redor do fogão, o importante era não faltar pão as suas crianças. A vida sofrida lhe deu muita sabedoria. O tempo parece que não passou, seus ensinamentos são ainda atuais e eficazes. Especialmente, em tempos de frio rigoroso e da temida gripe suína, os apelos e conselhos médicos a respeito da imunidade tornam tão atuais, quanto necessárias as receitas da vovó. Impossível não lembrar como preocupava-se com os filhos, com os netos e em sua simplicidade, ia desfiando uma lista de boas recomendações: “Cuidado, para enfrentar o frio, corpo sadio! Agasalhe-se bem. Alimente-se bem. Tome bastante líquido. Lave bem as mãos. Durma bem. Tome este chazinho e uma colher de açúcar com algumas gotinhas de Bálsamo Alemão para previnir-se da gripe..." Será que aquela velha senhora tinha razão? Será que o tempo não passou? Não mudou muita coisa? Ou o tempo não muda as coisas essenciais? Talvez... Afinal, de lá para cá já se vão quarenta, cinquenta anos e, com tanta evolução como pode uma gripe ser letal para o ser humano? Ainda se fosse naquele tempo em que meu avô morreu de 'nó nas tripas', hoje seria talvez obstrução intestinal, atualizando a terminologia. Mas de que adianta sofisticá-la, como dissemos anteriormente, o essencial o tempo não muda e a vida continua tão efêmera quanto antes. Infelizmente, ao sentir-se impotente diante de um ser microscópico capaz destruí-lo em pouquíssimo tempo, o gigante dá-se conta de sua pequenez. E dar-se conta da fragilidade e da finitude humana é mesmo muito cruel! Como pode um ser tão ínfimo derrubar tamanha arrogância humana? Acalentamos o desejo de negar a morte, vivendo a ilusão da invulnerabilidade. Quando hoje, talvez consequência das próprias invenções humanas, um vírus derruba todo e qualquer poderoso da soberba de sua pseudoimortalidade, no desespero da lei do 'salve-se quem puder' contra o tal vírus da gripe H1N1, vale tudo! Contando que apresente algum indício de proteção, vale recorrer à sabedoria popular, até às receitas da vovó. Hipocrisia, ironia ou qualquer outra adjetivação possível, mas diante do temor social em função da gripe suína, que para alguns pode até ser mais um jogo de interesse capitalista, para quem está vivendo de perto esta situação, entende-se que no desespero, qualquer tábua pode ser tábua de salvação! Ironicamente ou não, o certo é que o bendito Bálsamo Alemão já se esgotou nos estoques das farmácias locais. Em seus estoques também já não se encontram: máscaras cirúrgicas, álcool em gel e inclusive o simples chazinho da vovó, Anis Estrelado. Ou seja, parece que as receitas da vovó tinham algo a mais a nos ensinar. Espero que ao vencermos esta batalha não nos esqueçamos de que a vida é tão bela e tão efêmera que não vale desperdiçar um só instante. Tampouco esquecer de que mulheres e homens, crianças, jovens ou idosos, brancos ou negros, ricos ou pobres, somos todos da mesma matéria que mais dia, menos dia por certo acabará do mesmo jeito. E como já dizia minha avó: "o sofrimento ensina", espero sejamos capazes de aprender com sua sapiência. Oxalá, esta pandemia, triste e difícil experiência que estamos vivenciando, nos torne mais humanos e melhores aprendizes nessa travessia.

Gleice Agne


*TEXTO V
Plaquetuda Calibrosa

Marília Gabriela me perguntou uma vez numa entrevista se eu já havia atingido a idade em que não queria mais ser reconhecida pela minha inteligência, mas sim pela beleza. Respondi que, sem dúvida, eu me encontrava justamente nesse momento da vida. Não fui a menina mais popular da sala de aula, melhorei com o passar dos anos e agora, aos 40 e alguns, começo a perceber a curva descendente acenando com força moderada. E não é que nessa hora tão delicada dois elogios estranhos e inusitados me devolveram um certo orgulho da carne? Explico.
Fui doar sangue. Não é moleza doar sangue. Não pelo ato em si, que não dói nada e resolve a vida de muita gente. A dureza é ser aprovado no questionário minucioso, feito numa sala privada antes da doação. Parceiro fixo? Hepatite A, B, C? Sífilis? Gonorreia? HPV? HIV? Herpes? Fuma? Bebe? Toma algum remédio? Drogas injetáveis? Não injetáveis? Doença de Chagas? Diabetes? Pressão alta? Baixa? Históricos familiares... Conforme se avança na prova, é quase inevitável fazer uma revisão do passado, dos riscos da juventude, dos excessos, mancadas e bobeiras, das heranças, dos vícios, dramas e arrependimentos da vida toda. Funciona quase como uma boa sessão de análise.
Passado o teste, fui encaminhada para a cadeira astronáutica do banco de sangue. Passaram o garrote no meu braço, e o olho da enfermeira faiscou ao ver a veia saltar.
– Hummmm... Calibrosa! – disse ela, já chamando a colega do lado para dar uma olhada. As duas trocaram sorrisos interessados. Percebi nas hematologistas uma enorme ganância de veias bojudas. Pareciam vampiras do bem. Deixei meio litro de sangue para elas e, com o tal orgulho da carne, ou seja, do meu sistema venoso, prometi voltar para doar as plaquetas.
Voltei. Doar plaquetas é outro capítulo. Além das veias fartas, é preciso ter um fluxo grande de circulação sanguínea para encher a máquina, uma geringonça impressionante que retira o sangue, separa as plaquetas e depois devolve o plasma e as hemácias para você. Foi lá que recebi outro cumprimento esdrúxulo:
– Hummmmm... Plaquetuda!
Não soa tão bem quanto calibrosa, parece mais xingamento, mas não me incomodei. Estou naquela fase que a Marília citou, qualquer elogio à matéria é bem-vindo. Podem espalhar por aí que sou uma dona plaquetuda calibrosa. Vai ser o meu mais novo cartão de visita.
Depois dos 40 é comum receber más notícias dos médicos e, invariavelmente, uma batelada de exames para fazer. Mamografia, curva glicêmica, para os homens o temível toque de próstata, isso sem falar na colonoscopia, nos incontáveis ultrassons e no raio X dos joelhos, para quem nunca perdeu o futebol. Aos 20, a gente torce o pé e continua andando. Aos 30, o doutor te receita um analgésico por telefone e recomenda repouso. Aos 40, ele já vai te engessar, medicar e botar na fisioterapia. Aos 50, te interna, abre e mete um pino.
Meu clínico geral me disse rindo que chegamos à era da reposição de peças. Se uma civilização futura (será que isso vai existir?) for cavucar as nossas tumbas, só vai encontrar implante de silicone, osso de platina, joelho artificial... Vai-se a carne, ficam as próteses.
Se tivermos a sorte de viver muito, enfrentaremos as inevitáveis doenças degenerativas. Hoje eu entendo a importância de poder contar com um banco de sangue confiável e bem fornido. A gente nunca sabe quando vai precisar. Gostei de doar sangue, é algo que todos os que têm condições deveriam fazer por si mesmos, pelos seus e pelos outros. Se você tem fator RH negativo, então, pense seriamente no caso. A necessidade é grande. Peça ao seu médico que lhe indique um banco adequado. Quem sabe você ainda não sai coberto de novos adjetivos?


Fernanda Torres.


*TEXTO VI
E tudo mudou...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A arena virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.

Luís Fernando Verissímo
*TEXTO VII
O DIA DELE

Todos estranhamos quando ele entrou na classe naquele lamentável estado. Havia pouco, estacionara a moto no pátio, por um triz não atropelando um gato que se deixara ficar aturdido pelo estampido do cano de escapamento aberto. Subira as escadas displicentemente- foi o que disseram várias testemunhas – e, ao passar pelo saguão dos alunos, emitira um arroto. Mais adiante, encontrou-se co sua turma. Atirou ao chão os livros, sentou-se sobre eles, e puxou um cigarro sem marca.
_Tem fogo aí ?
O da turma de Biologia sacou do bolso um isqueiro, atirou por cima da cabeça da colega de Química.
_ Onde vamos barbarizar hoje?
_ Vamos pegar o pessoal da 226- B.
_ Sou mais a 125- C. Eles estão precisando de uma boa lição.
_ Não perdem por esperar- respondeu, dando uma tragada funda.
Levantou-se, amarrou os cadarços do tênis, cuspiu na parede, levantou o polegar. Como fazia os Imperadores Romanos para os gladiadores na arena.
Foi então que o pudemos ver bem naquele triste estado. A gravata cinzenta, que era quase um componente fixo de seu uniforme Dário, havia sido arrancada e estava amarrada à cintura. O guarda-pó, completamente imundo, estava dobrado junto com os cadernos. A camisa sobrava fora das calças. E as calças pareciam pertencer a um hipotético náufrago que teria soçobrado nas explosão de um navio pirata.
Começou por chutar a carteira do aluno que lhe ficava à frente.
_ Abram os cadernos.
Obedecemos. Sentimos em seu olhar uma ponta de cinismo e desfio, muito comum em pessoas que têm pais implicantes e fazem questão de demonstrá-lo, a propósito, ou sem nenhum propósito.
_ Vamos fazer a prova do mês.
Do fundo da classe elevou-se um abafado murmúrio de desgosto, tímido e tenso. Ele ergueu o rosto com óbvio sentido de cortar na raiz qualquer protesto ou palpite.
Vimos na aula anterior a diferença da fosforilação nos cloroplastos e mitocôndrias. Creio que todos entendem. Como hoje não estou com nenhuma disposição, pois a noite passada fiquei enchendo a cara fui dormir de madrugada, vocês me façam o favor de dissertar sobre o fenômeno da plasmólise, enquanto ficarei no fundo da classe, mascando meu chiclete de frutas e tirando uma pestana.
Breve silêncio. Arrematou:
_ E não se atrevam a me acordar. Hoje não estou bom do fígado.
Um dos nossos levantou a mão:
_ Posso fazer uma observação?
_ Não, senhor. Ponha-se no seu lugar. Comece a escrever.
_ Mas o senhor não avisou que haveria prova. Ninguém se preparou.
_ Já disse que não me aborreçam. Matéria dada é matéria a cobrar.
O murmúrio cresceu, agora solidário entre nós.
_ Não é justo. O senhor costuma sempre avisar com antecedência...
_ Estou careca de saber disso. Aviso, e depois vocês ficam me pedindo nota. Hoje vamos usar processo inverso. Não aviso, e exijo que vocês façam prova limpa, correta, irretocável.
_ Mas...
_ Se vocês não forem compreensivos, chamarei meus pais, eles virão à escola fazer publicamente uma reclamação contra os alunos que tenho. Ou então pedirei transferência para uma escola onde os alunos não sejam tão cacetes e obtusos. Papai e mamãe conhecem o diretor, são amicíssimos dele. Vocês não imaginam o que eles podem aprontar. Vamos, mãos à obra.
Ficamos ainda um tempo a encará-lo. Por que teria mudado? Geralmente é uma pessoa cordata, acessível, pacífica, tolerante. Dá-nos sempre a impressão de que depende de nós para viver, para sobreviver, para sustentar a mulher e os filhos. Mas hoje...Engraçado.
Está parecendo um dos nossos. Está fazendo valer seus direitos. O que lhe terá acontecido na cabeça?
Mais tarde, ele recolheu as provas e, sem se despedir – ao contrário do que faz normalmente – abandonou a sala, foi juntar-se a sua turma, os da Biologia, da Matemática, da Química, das Letras Clássicas. Ficaram fazendo algazarra nos corredores. Até que nós perdemos a paciência, chamamos o bedel para por cobro à esculhambação.
Mas o bedel se recusou a interromper. Alegou que, ao menos uma vez no ano, o professor também tem seu dia de dar o troco aos alunos.


Lourenço Diaféria


*TEXTO VIII
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

Ricardo Ramos.